Balada existencialista composta e gravada pelo artista em 1971 é a principal música da trilha sonora do longa-metragem do diretor Walter Salles. Erasmo Carlos (1941 – 2022) na capa do álbum ‘Carlos, Erasmo…’, disco de 1971 que traz a balada ‘É preciso dar um jeito, meu amigo’, incluída no filme
João Castrioto / Divulgação
♫ ANÁLISE
♪ As três históricas indicações do filme Ainda estou aqui ao Oscar 2025 amplificam a voz de Erasmo Carlos (1941 – 2022) ao fomentarem a carreira do longa-metragem de Walter Salles no circuito internacional.
É que a principal música da trilha sonora do filme é a canção É preciso dar um jeito, meu amigo, balada existencialista ouvida na gravação original feita pelo cantor e compositor carioca há 54 anos para o álbum Carlos, Erasmo… (1971), título emblemático que apontou um rumo para a discografia do Tremendão após a Jovem Guarda (1965 – 1968).
No ano passado, a música de Erasmo já extrapolara as fronteiras do Brasil ao ser incluída na quarta temporada da série Outer banks (2024), da Netflix, mas nada se compara ao sucesso mundial de Ainda estou aqui.
Antes mesmo das indicações ao Oscar, o filme já vinha fazendo excelente carreira no circuito internacional, sobretudo nos cinemas dos Estados Unidos e da França. Com as indicações ao maior prêmio do cinema norte-americano, a tendência é que muito mais gente veja o filme no exterior e, consequentemente, muito mais gente ouça a gravação de Erasmo.
“Ainda Estou Aqui” recebe três indicações ao Oscar, incluindo Melhor Filme
A canção É preciso dar um jeito, meu amigo tem autoria atribuída a Erasmo Carlos e a Roberto Carlos, mas, pela arquitetura melódica e pelo teor sociopolítico da letra, presume-se que a composição seja basicamente uma criação de Erasmo com a colaboração de Roberto.
A música foi gravada com o toque da guitarra de Lanny Gordin (1951–2023) e destila melancolia que evoca com sobriedade o clima sombrio do Brasil em 1971, um dos anos de chumbo da ditadura militar. Ano do assassinato do deputado Rubens Paiva (1929 – 1971) por militares em janeiro daquele ano, mote para o início da saga de Eunice Paiva (1929 – 2018), a mulher de Rubens, protagonista do filme Ainda estou aqui na aclamada interpretação da atriz Fernanda Torres.
Cantada por Erasmo sem qualquer traço de sentimentalismo, a balada É preciso dar um jeito, meu amigo se afina com o tom comedido da direção sóbria de Walter Salles.
Embora não tenha se tornado um blockbuster ao ser lançado no segundo semestre de 1971, o álbum Carlos, Erasmo… revigorou a obra de Erasmo e foi sendo cultuado no Brasil com o passar do tempo. Agora, com a explosão do filme Ainda estou aqui no circuito internacional e com as fronteiras abertas das plataformas de streaming, o culto do disco poderá ser estendido para ouvintes de outros países e idiomas, ecoando a voz gentil do gigante Erasmo Carlos.
-24 de janeiro de 2025